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ESPAÇO PEDAGÓGICO
v. 27, n. 2, Passo Fundo, p. 389-405, maio/ago. 2020 | Disponível em www.upf.br/seer/index.php/rep
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“Participar não é só fazer activismo”: olhares de crianças e adolescentes moçambicanos
do basquete, da escola, só de eu saber que uma coisa que a outra não sabe, tipo me
sinto mais, mais!” (Egineta, 15 anos, Maputo).
Os adolescentes de Maputo (15 – 19 anos) mencionam também algumas habi-
lidades individuais que consideram importantes para alcançar a felicidade e rea-
lizar os seus sonhos: ser optimista e capaz de sorrir em qualquer ocasião; ter foco,
determinação e força de vontade para alcançar os seus objectivos; ter paixão e dedi-
cação nas actividades desempenhadas; ter capacidade de fazer as escolhas certas,
avaliando custos e benefícios; não ter medo de tentar. Para elesm estas atitudes
representam a chave do sucesso no presente e no futuro e podem ser cultivadas nas
situações quotidianas, por exemplo, decidindo usar o dinheiro para ir passear na
praia em vez de sentar na barraca a beber ou experimentando um novo passo de
dança, mesmo sabendo que não vai sair bem.
Todos os adolescentes, independentemente da idade e do contexto, mostram o
prazer de estarem juntos como outras pessoas e de poder ajudar quem precisa. Os
adolescentes mais velhos de Maputo enfatizam a capacidade de colaborar com os
outros para alcançar um objectivo. A capacidade de ouvir e respeitar a opinião dos
outros, sobretudo dos mais velhos, é valorizada em todos os contextos. Outras prá-
ticas mencionadas, mas ainda pouco implementadas, são a demostração de afecto
(sorrir, abraçar) e pedir ajuda em caso de necessidade: “devemos falar para os nos-
sos mais velhos, para dizer que se acontecer uma coisa devemos correr para falar
para eles resolver muito rápido” (Artur, 13 anos, Pebane). Finalmente, na relação
com os outros, os adolescentes mencionam também a capacidade de não sucumbir
a opinião dos outros, respeitando a si mesmos e aos seus gostos. Algumas meninas,
que costumam ser gozadas pelos colegas devido à sua magreza, explicam:
[...] eu gosto do meu corpo assim. Pessoas falam que eu sou modelo, eu mesmo eu ser ma-
grinha, não me importo. Meu corpo não é como vosso, quando nos dão corrida com cão e na
educação física, vos ganho, vocês com vossa gordura também choram com vossa gordura e
querem ser magras como eu (Meninas, 12 -13 anos, Pebane).
As barreiras que se colocam à livre expressão dos adolescentes são, em parte,
especulares aos requisitos mencionados. Em termos biológicos, os adolescentes de
Ribaué mencionam as doenças como algo que lhes impede de participar das activi-
dades com os outros. As limitações nos requisitos identitários e nas capacidades e
competências acabam se influenciando umas com as outras, sendo que os adoles-
centes de Maputo e Pebane mencionam a falta de autoestima e o medo como obs-
táculos para a sua participação: uma vez que “a maioria dos adultos pensa que as
crianças não sabem nada, às vezes elas próprias se limitam”, acreditando que são